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A morte te dá parabéns

- Vi esse filme com a cara torta. O trailer é basicamente tudo que repudio num trailer e, além disso, nos apresentou uma personagem asquerosa. A estória também não me parecia digerível. - No entanto, Landon enfim está seencontrando como diretor. Quantas vezes você já assistiu algo excelente, mas não conseguiu transmitir de forma convidativa aquela estória para o seu amigo? Pois é, a forma como ela é contada contém o contágio. Embora essa premissa à la literal Eterno Retorno soe meio estúpida, o filme a supre muito bem. - Além do mais, dirigir o mesmo dia, a grosso modo, diversas vezes e fazer com que isso não se torne penoso à plateia é um desafio grandíssimo para um diretor. Confesso que em nem um momento sequer fiquei entediado. - A personagem se demonstra um lixo no início e isso me incomodou muito. O filme não quis demonstrar que ela mudaria após certas experiências; ok, isso é inteligente da parte do diretor, mas até lá eu pensei que seria um filme mal intencionado, uma obr

O discreto charme da burguesia

- Antes de tudo, é importante comentar que esse filme é uma masterpiece de Buñuel, reunindo seus dois mais bem utilizados mecanismos: o surrealismo e a crítica. Eu, aliás, dividiria o filme em duas partes: sendo a primeira crítica (de cunho ácido e humorístico), enquanto a outra, com traços mais surrealista. Ressaltar a influência do surrealismo sobre as obras é basilar para o espectador, pois, caso este não saiba do seu teor narrativo, tende a recuar. - O filme parte de uma premissa simples: as tentativas de encontros entre seis amigos de classe média alta. A comédia está nos mínimos do diálogo, nos olhos dos atores e no ambiente; o diretor dedicou a maior parte da carga humorística não em piadas soltas, mas em curtos trechos em que apenas a plateia atenta capturaria - ou aquela que tiver algum senso de ironia. - As interrupções, situações já mais abertas, são divertidíssimas. O velório no restaurante foi impagável! Mas, novamente, a graça está na serenidade deles em frente a esse

O homem duplicado

- O filme já ganha um crédito por ser uma adaptação do Saramago; de um livro que abrange horizontes. Tenho uma política anti-adaptações particular, porém, para este filme, decidi abrir uma exceção. A temática, a direção e o elenco funcionam como ímã. - Início interessante. O fato de te dizer pouca coisa com muitas imagens é intrigante, logo se começa a fazer teorias do que virá ou do que isso tudo significou. A tarântula, aliás, soou bastante simbólica. Uma introdução instigante tem valor crucial para a atenção do telespectador, ainda mais o astuto. - Ambientação maravilhosa! Direção digníssima! - As explicações de Adam durante as aulas são muito interessantes. Um filme que cita Hegel ganha +1 pontinho para mim (rsrs). A questão é que esperei um esclarecimento das suas aparições, o que não aconteceu. - Referência a Hitchcock na locadora. Curiosamente sobre um filme que tem tema semelhante com este. - A premissa das semelhanças é perfeita, entretanto o filme peca em alguns pon

Star Wars VII: O despertar da Força

- Eu lutei comigo mesmo para ver esse filme. Vi Star Wars pela primeira vez aos oito anos com duas primas minhas, que já tinham os seus vinte anos; por terem alguma experiência com o filme, passaram-me apenas o IV, o V e o VI (em suma, os prestáveis). O vício foi instantâneo, porém eu vi a safra da virada do milênio - a ruína de uma saga - apenas alguns anos depois, visto que eu era muito jovem e não tinha acesso o suficiente à informação para ver que havia mais filmes a serem vistos. Bom, eu os vi e não gostei. Pensei que era da idade; vi novamente depois de uns cinco anos e não deu outra: não gostei. O episódio I era bastante desconexo, o II era um fiasco e o III era ruim, todavia nele continha a luta entre Obi-Wan e Anakin, a qual me seduziu e por ela sempre serei apaixonado. Ora, como sou fã desde petiz de Star Wars, decidi dizer que esse desgaste do George Lucas foi válido >apenas pela cena final de Star Wars III<. Apenas por isso. Foi, sim, uma vergonha essa recaptura à sér

A Chegada

- Minhas primeiras impressões sobre o filme, antes mesmo de vê-lo, eram negativas por dois motivos: 1. O trailer; ao vê-lo, fiquei extasiado. Acreditei que seria um sci-fi que foge do convencional (o filme de fato o faz) e que misturaria ideias que outros filmes não costumam trazer, como a linguística. Depois que a poeira baixou, vi que o trailer sofre da síndrome contemporânea destes - contar o enredo inteiro. Sim, o trailer fornece informações que seria cruciais durante o desenvolver do filme, mais precisamente sobre a comunicação alienígena. Quando eu finalmente vi o filme, não foi diferente do que eu esperava; uma cena que poderia funcionar para mim, acabou soando como "eu já sabia disso. Aliás, gostei desse cut, diretor...". A maioria dos trailers ultimamente tem feito isso. E, por isso, tenho evitado assisti-los.  2. Logo em seu lançamento, soube que o filme sustentava-se apenas pelo plot twist. Não há como confiar na qualidade de um filme que existe só pelo plot twis

Akira (1988)

- O filme merece destaque por ter sido feito em 1988 e, mesmo assim, a sua animação ter envelhecido como vinho. Creio que esse dado já seja extremamente válido. - O seu cunho político é absolutamente crível. As manifestações, a maneira como estas são controladas, a obsessão ideológica de uns, et cetera. são coisas não pouco próximas dos dias atuais. Muitas ficções esquecem-se que respiramos política. Akira coloca a política como papel fundamental do roteiro. - Papéis muito bem distribuídos: começando apenas com meia dúzia de meliantes e atingindo níveis governamentais. Tudo muito bem digerido para o telespectador. Não há aquela conhecida sensação de atropelamento, de que possa ser um sonho e nada mais.  - Conectando com o dado anterior, o crescimento gradual dos poderes paranormais de Tetsuo funciona muito bem e é necessário para a boa compreensão da plateia.  - (SPOILER) A insânia que contamina Tetsuo não convence em um primeiro momento. Com as posteriores explicações, o perso

A Bruxa

- O filme é um desafio para qualquer diretor, mesmo na tecnologia audiovisual que hoje vivemos. O desafio, aliás, não é estritamente visual, mas o que se fará com ele; o filme passa-se em meados de 1600, quando o mundo está abandonando resquícios da Idade Média e seguindo o lema "Scientia est potentia". Suprir essa transição, inclusive, é mais rigoroso que representar a própria Idade Média. Bem, vejamos que filmes sobre tal época não faltam; mas até onde são verossímeis? É um tempo caricato e recheado de mitos. Umberto Eco praticamente ditou regras sobre como ERA e como DEVE ser representada a Idade Média - o cinema aquiesceu e as seguiu. Seguiu-as e as hiperbolizou. As artes dramáticas necessitam de um público agitado. O exagero virou exagero dobrado e a Idade Média virou o demônio católico (rsrs). A Bruxa tinha de representar a queda da espiritualidade medieval - o risco de nos fornecer algo careta ou uma paramnésia se intensifica. A produção abriu mitos e arquivos da época